segunda-feira, 6 de julho de 2015

A raposa sem rabo

                          

Uma ladina Raposa
Caiu em certa armadilha,
(Que sempre as tece o Diabo!)
E foi grande maravilha
Ficar apenas sem rabo:
Com tal perda envergonhada,
De a coonestar busca a ideia;
E as sócias vendo uma vez
Juntas em grande assembleia,
Lhes disse muito cortês:
– Sabei que os cães destes sítios,
– Que há dias tenho encontrado
– Por esta campina toda,
– Tem o rabo cortado,
– Que me faz crer que isto é moda;
– Se é moda (falo-vos sério)
– Nunca vi coisa mais útil!
– De que serve dizei vós,
– Trazermos um peso inútil
– Pendurado atrás de nós?
– Um rabalhão gadelhudo,


– Que nos faz calma no estio,
– E lá pelo inverno todo
– Nos dobra, e exaspera o frio
– Ou cheio de água, ou de lodo?
– Portanto eu vos aconselho,
(E deixemos questões fúteis)
– Que o rabo cortemos todas;
– Pois quando as modas são úteis,
– É útil seguir as modas.
Uma Doutora do rancho,
Mestra em astúcias antiga,
Lançando-lhe a vista em roda
Lhe diz – Ora aposto, amiga,
– Que tu já usas da moda?
– Deixa ver, dá meia volta,
Eis que então a derrabada,
Disfarçar-se não podendo,
Ao som de grande assoada,
Dando à gambias foi correndo.
Que de um delito afrontoso
Em si o ferrete imprime,
Com achar parceiros conta;
Crendo que a mancha do crime,
Sendo usual, pouco afronta.




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