quarta-feira, 1 de julho de 2015

O homem que não parava de sonhar

Todas as noites eram iguais, aquele velho homem de cabelos grisalhos, dedos calejados do serviço, mesmo cansado, antes de dormir parava em frente ao guarda-roupa, de baixo da mala de viagem um papel de carta, dentro dele, uma fotografia já castigada pela ação do tempo.


Enquanto a olhava, a lágrima escorria pelo seu rosto, um suspiro dobrado aparecia quando olhava a cama vazia, gélida. Ele colocava a fotografia de volta ao lugar de onde havia retirado, erguia as mãos a altura do peito, juntava-as como estivesse abraçando alguém imaginário.


Então se aproximava, puxava as cobertas uma a uma, até que somente restasse o lençol branco sobre o velho colchão. Com a aparência de quem estava sendo consumido pelo sono, sentava-se na cama, retira o óculos e coloca sobre o criado mudo. Agradecia a Deus por mais um dia.


Logo que se deitava, antes do sono dominar seus olhos, imaginava luzes em frente aos seus olhos. Por entre as luzes, via uma mulher, jovem e linda, cabelos pretos, olhos claros e sorriso largo. Então, aos poucos a imagem da mulher esmaecia, e por vezes jurava ver um cavalo negro, pelo reluzente, vinha em sua direção. Quando estava chegando perto, seu pelo reluzia na luz e a imagem mudava, via agora, um carro vermelho, modelo sport. As imagens, as visões seguiam, uma após a outra até tudo escurecer, os olhos se fecharem, o respiração diminuir.


De repente, um suspiro profundo, sua mente acorda. Seu rosto esboça reações de uma pessoa desesperada, fazendo tudo para acordar, por alguns minutos o silêncio predomina. O velho sonhava, a ilusão o levava para fora de seu corpo, ele se via de fora, fazendo o que acabara de fazer.


Olhava a foto, chorava, despia a cama, sentava-se, tirava o óculos, agradecia a Deus, deitava. E quando não conseguia mais enxergar ninguém a sua frente, acendia uma luz, focava nos olhos do homem deitado. Que por sua vez, via entre a luz: a mulher, o cavalo, o carro...